segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Poesia da Semana

Cometi este começo
assumidamente assim
colhido do maço de tanto assunto
bati-lhe o machado no cepo.

Talvez sintam-lhe o prurido
de início – é cedo, mas
ansiava-me aziago
por tê-lo. Passa-me assim
este medo – melhor:

foi um modo de sê-lo.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Poesia da Semana

Três Poemas Feitos Especificamente Para Você Ficar Para Sempre Comigo.

I.

Um homem passou pelo caminho

e – paf !- chutou uma pedrinha

que estava ali

a duzentos e cinqüenta e seis anos

no mesmo local.

A pedrinha rolou dali – tictictic...-

um palmo e meio para acolá.

A bolinha de sombra

que a pedrinha fazia no chão – tictictic... –

rolou junto, um pouco atrasada.

Do lado de cá da pedrinha

o pozinho do chão – puf-puf ! –

arredou mais pra cá.

Do lado de lá da pedrinha

o pozinho do chão – puf-puf ! –

arredou mais pra lá.

E depois do pó,

eu.

Só.

II.

È ridículo, um cara como eu

- o maço de cigarros,

a descrença em cima da mesa –

apaixonado.

Uma pessoa como eu,

aqui, sentada na mesa.

É ridículo.

Logo eu:

coração,

pôr-do-sol,

até flor.

A-pai-xo-na-do.

Um maço de descrenças

e acendo um cigarro.

III.

Este terceiro e último poema

é pra pedir chorando:

fica pra sempre comigo.

Este terceiro poema é bilhete de seqüestrador,

é carta de suicida,

é nota promissória

de chantagem emocional.

Este último poema

é porque eu queria escrever:

fica pra sempre comigo

e grifar.

Este poema, terceiro e último,

é muito aflito,

é um apelo ao céu

do papel.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Poesia da Semana

Enquanto eu fazia cafuné lentamente
eu tentei pensar só no cafuné
e ver os outros pensamentos passarem
e ser somente minha mão triscando com a unha
com os dedos se perdendo no mato

Eu até imaginei que o Cafuné
era um negro pequeno
de calção,
esse calção dizia exatamente tudo:
um calção velho de futebol,
o calção da infância de qualquer menino brasileiro,
o mesmo calção que também tira o pudor da nudez do índio,
qualquer calção.

Eu estava com saudade sua!, Cafuné, homem brasileiro,
menino do mundo.

Mas olha só! Tanto pensamento em mim que devia ser
só uma mão a fazer cafuné
na mata dos cabelos.
Mesmo com tanto pensamento me queimando a cabeça,
inclusive sobre cabeças,
cafuné em outras cabeças,
cafunés,
inclusive dando cafuné
achando que precisava receber mais do que dar,
tanto problema no começo do cafuné,
mas eu tinha confiança nele:
paciente,
feito lentamente,
carregava a gente até...

Mas tanto problema,
será que fiquei mesquinho até pra carinho?

Não! Repensei, cafunei:
Persistindo suave com os dedos raspando;
Agradando feito grade das unhas arando;
Mantendo a munheca quando catava, cavucando,
Cabelo confuso, couro, coça... cabeludo.

Não disse? Veio!
Persistido desde o começo,
quando já tinha dele me esquecido,
o prêmio do carinho,
o agradável que a si nos vem sozinho:
- o sono.

Desde lentamente
sabia-se que ele viria.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Poesia da Semana

Está acabado

quem não diz:

- eu tentei,

deu errado.

Está começado

este poema:

para você ver que só não está certo

aquilo que na rima empena.

Só é uma espécie de solução

aquilo que está em extinção:

é brega mas é verdade, fazer o que?

É o seu coração.

Continua, pede perdão a quem fica:

e leva o resto de roldão.

Comemora, utiliza o tropeço de agora,

firma o refrão.

Toca a bola,

só é sacanagem

aquilo que não teve a chance da reciclagem,

é lixão.

É brega mas é o seu coração.

Tem caco é imundo aterrado

é um charco atolado

é o resto do entulho

é garampo redobrado badulaque

trinta e três e bagulho

dentro do peito - batalhão.

Não marcha simplesmente:

é preciso esse enorme pedaço

de solidão:

-- Você quer?

-- Não

Deu errado mas é solução.

Cavucando no lixo,

é brega, mas se acha uma flor.

Ofereça sua orelha pra por.