segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Poesia da Semana

Flor é paixão – de paciência.
Faz amor à bico de abelha
e pega carona em grão de vento,
rabeira de pólen,
tempestade de areia .

Luz, água e amores
dão coceira em semente,
e quando fundem-se cor e calores,
velha, a vida ascende.

Desembucha !

Visitei o site Manufatura, que traz poesias novas semanalmente.
Não é coincidência, eu conheci o autor desse site uns 3 anos atrás e o copiei.
Bom, a poesia dele, dessa semana, criou, através de uma metáfora estraha, uma sensação enorme em mim. Não sei explicar, tem coisa que "bate". Essa poesia dele bateu. Eu apanhei de uma coluna de luz, algo misturado com dragão e girassol - por fim, de uma flor.
Além de dizer isso, eu queira dizer que uma poesia, pra ser mesmo boínha mesmo, tem que ter um final.
É difícil fazer final.
É como se o texto desse uma volta sobre si mesmo, se desse conta de si, e nos oferecesse esse estalo, como uma flor, no fim. Acho que a gente não faz o final, afinal, deve ser ele que se faz por si. Olha, tem hora que a gente dá é uma puta de uma sorte mesmo! A poesia tem que ter um estalo final. Repare como a do Manufatura dessa semana tem.
Em homenagem ao Nola, autor do Manufatura, coloquei esta poesia aí em cima, escrita a tempos.
Poesia de flor também. Ou sobre algo estranho que acontece quando a palavra flor se desdobra em luz, cor e paciência.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Poesias da Semana

O RIO CAI

O rio cai.
Ainda,
e ainda.

O rés do caminho anda,
água à frente,
chão pra trás.

Nem ida nem vinda,
a vida do rio,
perdura invés.



UMA ARTE

A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si
o acidente de perdê-las,
que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreva!) muito sério.


Elizabeth Bishop
Versão em português: Paulo Henriques Brito

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Poesia da Semana

DUAS PALAVRAS

É verdade que eu desejavéla,
mas ela provobocou.
Um mulherígo.
Eu não sou de ferro,
eu sou ardômem.

Perneabriu a porta do apertamento,
oferequerendo,
exigiu que eu ficasse embora.
Tive uma prelegumonição!
E estava certo, pois ela disse: amorêntra,
quero que você me inhame.

Entrevitei ao máximo mas
saí de uma vez pra pele dela.
Robeijei sua boca,
dei abrasseio, nossas mãos
lingüíam e vinham, um
emarunhando o outro,
um verdadeiro cabelaval.

Descansuâmos um pouco
mas logo eu dizia:
Você pé mais?
E ela: eu péro.
Eu te agradéxo !

E novamentagênte:
eu dizia sim, simtura,
ela ria qua qua quadril,
eu quero vosseio, me largárra,
amachúca, parêntra – devarrápido!

Nesse desentendamamênto
Até o gozostôso final.

Olha... é impressionentrante
o que as palavras fazem com a gente.

Desembucha !

<1>Antes de qualquer conversa, a poesia já falou por mim. (Oh!)

<2>Mas um pouco de prosa também é bom. Para quem lembra do antigo "Reco-Reco...", que era mandado por e-mail, aqui está o blog. Andavam me cobrando...e eu adorando ser cobrado! Para quem não conhecia, está aí - uma poesia minha por semana. Se for escrito de outra pessoa, eu ponho embaixo o nome do autor - se não tiver nome, é meu mesmo.
Enfim, é nosso.

<3> Então, vou me apresentar falando poesias no dia 21 de Março, Quarta-Feira, no Sarau do Espaço Cultural CPFL - começa às 21 horas. Se der tempo, terá uma novidade (não vou contar que é o lançamento do meu livro). Mais perto da data eu aviso de novo.

<4> Amanhã, Quinta-Feira, 15/02, tem um espetáculo imperdível, o "Gaiola de Moscas", no Semente, às 20:30hs, dentro da programação do Feverestival - confiram toda aprogramação em feverestival.com.br.

<5>Uma sugestão: ao lerem o poema, o acento serve para marcar a sílaba forte, nas palavras emendadas.

<6>Me despeço com essa meia dúzia de desembuchos.