O RIO CAI
O rio cai.
Ainda,
e ainda.
O rés do caminho anda,
água à frente,
chão pra trás.
Nem ida nem vinda,
a vida do rio,
perdura invés.
UMA ARTE
A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si
o acidente de perdê-las,
que perder não é nada sério.
Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.
Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.
Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.
– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreva!) muito sério.
Elizabeth Bishop
Versão em português: Paulo Henriques Brito
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário