quarta-feira, 2 de abril de 2008

Poesia da Semana

Enquanto eu fazia cafuné lentamente
eu tentei pensar só no cafuné
e ver os outros pensamentos passarem
e ser somente minha mão triscando com a unha
com os dedos se perdendo no mato

Eu até imaginei que o Cafuné
era um negro pequeno
de calção,
esse calção dizia exatamente tudo:
um calção velho de futebol,
o calção da infância de qualquer menino brasileiro,
o mesmo calção que também tira o pudor da nudez do índio,
qualquer calção.

Eu estava com saudade sua!, Cafuné, homem brasileiro,
menino do mundo.

Mas olha só! Tanto pensamento em mim que devia ser
só uma mão a fazer cafuné
na mata dos cabelos.
Mesmo com tanto pensamento me queimando a cabeça,
inclusive sobre cabeças,
cafuné em outras cabeças,
cafunés,
inclusive dando cafuné
achando que precisava receber mais do que dar,
tanto problema no começo do cafuné,
mas eu tinha confiança nele:
paciente,
feito lentamente,
carregava a gente até...

Mas tanto problema,
será que fiquei mesquinho até pra carinho?

Não! Repensei, cafunei:
Persistindo suave com os dedos raspando;
Agradando feito grade das unhas arando;
Mantendo a munheca quando catava, cavucando,
Cabelo confuso, couro, coça... cabeludo.

Não disse? Veio!
Persistido desde o começo,
quando já tinha dele me esquecido,
o prêmio do carinho,
o agradável que a si nos vem sozinho:
- o sono.

Desde lentamente
sabia-se que ele viria.