segunda-feira, 23 de abril de 2007

Poesia da Semana

Aspereza

Da aspereza das casca das árvore
é a voz que cansada crepita a viola,
velha de som entrecortado.
É quando o bojo e o braço estraleja,
e as corda emparelhada conversa,
com os dedo seus segredo esfregado.

As coisa que ali se versa,
é sobre o suco das coisa.
Tem muita idéia escorregadiça,
e barulho que dorme embalado.
E no peito dos homem calado,
o sofrimento das dobradiça.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Poesia da Semana



Você Tem os Amantes

Você tem os amantes.
Eles não tem nome,
a história deles não interessa,
é só entre eles,
e você tem o quarto, a cama e as janelas.
Finja que é um ritual,
desfralde os lençois, enterre os amantes,
sele de negro as janelas.
Deixe-os viverem naquela casa por uma ou duas gerações.
Ninguém ousa perturbá-los,
As visitas no corredor andam na ponta dos pés
em frente da longa porta fechada,
tentam escutar um barulho, um gemido, uma canção,
mas não conseguem ouvir nem um sopro.
Você sabe que eles não morreram
pois é possível sentir a presença
do amor intenso que eles estão fazendo.

Seus filhos crescem e vão embora,
tornaram-se viajantes e cavaleiros.
Seu companheiro morre depois de uma vida de trabalho.
Quem lhe conhece? Quem se lembra de você?
Mas na sua casa há um ritual acontecendo,
ainda não acabou – precisa de outros.

Um dia a porta da câmara dos amantes está aberta.
O quarto se transformou num denso jardim
cheio de cores, cheiros e sons que você não cohecia.
A cama está macia como um wafer de luz do sol
e brilha, sozinha, bem no meio do jardim.
Sobre ela, silenciosamente, deliberadamente e com calma,
os amantes praticam o ato do amor.
Seus olhos estão fechados tão apertados
como se houvessem pesadas moedas de carne sobre eles.
Seus lábios estão marcados por roxos antigos e recentes,
o cabelo dela e a barba dele estão irremediavemente embaraçados.
Quando ele toca sua boca no ombro dela
ela não sabe direito se o ombro está dando ou recebendo o beijo.
Toda carne dela é como uma boca.
Ele passa seus dedos na cintura dela
e sente a sua própria cintura acariciada.
Ela usa os braços dele para não saber de quem é o abraço.
Ela beija a mão diante da sua boca,
é a mão dele ou a mão dela, não importa,
há tantos outros beijos mais.

Você para ao lado da cama chorando de felicidade
e cuidadosamente desfralda os lençois
de cima dos corpos movendo-se lentamente.
Seus olhos estão rasos d´água, voê quase não enxerga os amantes.
Enquanto se despe, você canta, e sua voz está magnífica
pois agora você tem certeza
de que é a primeira voz humana ouvida naquele quarto.
As peças que você deixa cair brotam do chão: são vinhas.
Você sobe na cama e redescobre a carne.
Você fecha seus olhos e deixa que eles fique assim costurados.
Você cria um abraço e cai dentro dele.
Só há um momento de dor ou dúvida
quando você imagina quantas multidões
estarão deitando ao lado do seu corpo.
Mas uma boca beija, e o momento seguinte
escorre por entre os dedos da mão.



Leonard Cohen (original em inglês)

Versão em Português: Guga Cacilhas

sábado, 7 de abril de 2007

Poesias da Semana

Cometi este começo
assumidamente assim
colhido do maço de tanto
assunto bati-lhe o machado no cepo.

Talvez sintam-lhe o prurido
de início – é cedo, mas
ansiava-me aziago
por tê-lo. Passa-me assim
este medo – melhor:
foi um modo de sê-lo.


*


Passaram pelo caminho
e chutaram uma pedrinha ali
duzentos e cinqüenta e seis anos
no mesmo lugar.

A pedrinha rolou dois centímetros
para o lado, deixando pó.
E depois do pó, eu.
- só.


*


O Cão Diz:

Este é meu latido
traduzido em palavra.
Talvez te assuste, cara, assim
atirado, na lata, na testa.
É que a pata, até com a caneta,
é sincera.

É pouco o que aqui se diz é preciso
ouvir meu latido melhor,
o trinado o volume a vogal
que vai e vem repetida:
coisa de cão cão cão cão.

Uma dica: aqui não se diz,
se late (óbvio):
não tem arremate,
vocabulário, é mais:
“opa!”,
“eita!”,
“uau!”,
“porra!”.
- Que nem no trânsito.

Mas minha voz também é feita
de pêlo, de rabo e de afeto,
Eu também lato o sim,
choro, uivo,
procedo.

E assim sempre tem sido;
digo "au" e afirmo:
tudo que não cabe em palavra
é latido.

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Poesia da Semana



O poema não cortou o cabelo


Se for meu, vão sabê-lo.
Reconhecê-lo, cumprimentá-lo ao vê-lo.
O poema não cortou o cabelo.

São meus ossos em pó,
é o suco do que corre em mim,
é um fio de cabelo.
Não tem segredo.
A tinta da caneta
é da cor castanha dos olhos,
o castanho de sempre, comum, igual.
O papel é transado da fibra
de que é feita minha pele.

Em suma, sou eu,
esse poema andando na rua,
esse tênis à minha vida incorporado,
um verso, outro verso,
serei contado da planta
do rodapé da página
ao nariz do meu cabeçalho.

É aqui que você tem estado,
cada dia estranho da sua vida
teve a cor de um poema brotado.
O que não te deixava dormir,
até hoje não deixa,
é esse velho estado
que vem de novo num novo palavreado.

Você, cara, é uma poesia:
pessoesia.

Lembra, com 7 anos ? Já era isso.
Falando sozinho,
garrancheando depois com 12,
para a primeira namorada!
Você pensou que era o amor - pensou errado,
era um dia-poema,
era você revelado.

Mais dia, menos dia, ele vinha.
Como confundir?
Como não saber
quando vinha aquele escrito que era você?
Com 15 comecei a entender, com 20 gostar, 25 dizer.
Não importava, não importa,
no livro, na tela, falada,
a poesia da minha vida é esta aqui:
o papel sulfite, a caneta bic,
e esse velho, e sempre novo,
conhecido e desesperador estado.

Quando eu não consigo dormir,
é ele que deve sair.
E se for meu – vão sabê-lo,
o poema calçando meu tênis,
andando pela rua, vão reconhecê-lo
e cumprimentá-lo ao vê-lo:
o poema não cortou o cabelo.

Quantas vezes! Eu não dormia:
Menino, o que você têm?
Mãe, eu tenho uma poesia