sábado, 7 de abril de 2007

Poesias da Semana

Cometi este começo
assumidamente assim
colhido do maço de tanto
assunto bati-lhe o machado no cepo.

Talvez sintam-lhe o prurido
de início – é cedo, mas
ansiava-me aziago
por tê-lo. Passa-me assim
este medo – melhor:
foi um modo de sê-lo.


*


Passaram pelo caminho
e chutaram uma pedrinha ali
duzentos e cinqüenta e seis anos
no mesmo lugar.

A pedrinha rolou dois centímetros
para o lado, deixando pó.
E depois do pó, eu.
- só.


*


O Cão Diz:

Este é meu latido
traduzido em palavra.
Talvez te assuste, cara, assim
atirado, na lata, na testa.
É que a pata, até com a caneta,
é sincera.

É pouco o que aqui se diz é preciso
ouvir meu latido melhor,
o trinado o volume a vogal
que vai e vem repetida:
coisa de cão cão cão cão.

Uma dica: aqui não se diz,
se late (óbvio):
não tem arremate,
vocabulário, é mais:
“opa!”,
“eita!”,
“uau!”,
“porra!”.
- Que nem no trânsito.

Mas minha voz também é feita
de pêlo, de rabo e de afeto,
Eu também lato o sim,
choro, uivo,
procedo.

E assim sempre tem sido;
digo "au" e afirmo:
tudo que não cabe em palavra
é latido.