segunda-feira, 2 de abril de 2007

Poesia da Semana



O poema não cortou o cabelo


Se for meu, vão sabê-lo.
Reconhecê-lo, cumprimentá-lo ao vê-lo.
O poema não cortou o cabelo.

São meus ossos em pó,
é o suco do que corre em mim,
é um fio de cabelo.
Não tem segredo.
A tinta da caneta
é da cor castanha dos olhos,
o castanho de sempre, comum, igual.
O papel é transado da fibra
de que é feita minha pele.

Em suma, sou eu,
esse poema andando na rua,
esse tênis à minha vida incorporado,
um verso, outro verso,
serei contado da planta
do rodapé da página
ao nariz do meu cabeçalho.

É aqui que você tem estado,
cada dia estranho da sua vida
teve a cor de um poema brotado.
O que não te deixava dormir,
até hoje não deixa,
é esse velho estado
que vem de novo num novo palavreado.

Você, cara, é uma poesia:
pessoesia.

Lembra, com 7 anos ? Já era isso.
Falando sozinho,
garrancheando depois com 12,
para a primeira namorada!
Você pensou que era o amor - pensou errado,
era um dia-poema,
era você revelado.

Mais dia, menos dia, ele vinha.
Como confundir?
Como não saber
quando vinha aquele escrito que era você?
Com 15 comecei a entender, com 20 gostar, 25 dizer.
Não importava, não importa,
no livro, na tela, falada,
a poesia da minha vida é esta aqui:
o papel sulfite, a caneta bic,
e esse velho, e sempre novo,
conhecido e desesperador estado.

Quando eu não consigo dormir,
é ele que deve sair.
E se for meu – vão sabê-lo,
o poema calçando meu tênis,
andando pela rua, vão reconhecê-lo
e cumprimentá-lo ao vê-lo:
o poema não cortou o cabelo.

Quantas vezes! Eu não dormia:
Menino, o que você têm?
Mãe, eu tenho uma poesia

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