domingo, 6 de setembro de 2009

Poesia da Semana

Quase não se enxerga

na rua a pele grossa,

a pessoa é saliência

na calçada ou poça.


Quase não se enxergam

a pessoa e poças,

a calçada é saliência

da rua e pele grossas.


Negro, negro, negro

Como a luz do sol

Arco-íris no asfalto

Mancha de óleo no farol


Negro, negro, negro

Como a luz do sol

Mancha de óleo no asfalto

Arco-íris no farol.

Desembucha !

A poesia acima surgiu na minha cabeça como letra de música. A quem puser a melodia, favor mostrar-me o resultado.

domingo, 5 de julho de 2009

Poesia da Semana

No recôndito do meio imenso
dentro do Brasil funil
se escondem-se várias palavras.
Vai que talvez venham da pedra
dum bloco maciço, chapadisso,
que se arvora a ser parado
em sendo sempre ali:
reluzindo seco.

Um baú de guardados
donde nasce vocabulário
e não só modos, modismos
- coisas além dos ritmos -
lá há radicais raríssimos.
Recôndito.
Diamantismos.

Novas formas de ser negro
(que liberdade imensa escrever)
brinquedo sempre novo brinquedo
pedra quadrada paredões imensos
feito jogo de montar
Quebra-cabeça de idéias
e de formas naturais
(deixei meu coração lá)
a vida nova grande imensa
como a da fumaça
rasgando o meu peito
abrindo-se
placa tectônica
vale.

Lá pude ver as placas tectônicas
a terra desabrocha
nos seus ardumes interiores
- os rios!

Os rios.

Até agora falava de pedras
os rios me dão imediatamente vontade de chorar
pois é como se as lágrimas
pudessem ter cor
e eu pudesse chorar azul,
como se de um rosto
escorresse uma lágrima
de um translúcido amarelo-âmbar.

E tudo isso tem a ver com negro.
É tudo negro
descaradamente negro
são negras
produzindo todas as cores
descobrindo áfricas
cores
nos detalhes ensolarados
cores
novas estruturas
cores
segredos compreendidos
cores
mecanismos de África
cores.

domingo, 28 de junho de 2009

Poesia da Semana - Versão


Parem todos os relógios, que os telefones sejam cortados,

Dêem um osso suculento para o cachorro parar de latir,

Silenciem os pianos e com tambores abafados

Tragam o caixão, deixem os que sofrem vir.


Deixem aviões gemendo e sobrevoando nossos chapéus

Rabiscando a mensagem “Ele está morto” no céu

Coloquem arcos de crepe em volta do pescoço branco das pombas,

E luvas de algodão pretas para os policiais em sua ronda.


Ele era meu Leste, meu Oeste, meu Norte e meu Sul

Minha semana de trabalho e um domingo azul

Meu meio dia e meia noite, minhas conversas e as canções que escutei

Eu pensei que o amor durasse para sempre: eu me enganei


As estrelas não são mais necessárias, podem tirá-las,

Deixem que o sol se desmanche e a lua podem apagá-la,

Esvaziem o oceano e varram a floresta

Porque agora de bom nada mais resta.


Versão de Guga Cacilhas para a Parte I de "Two Songs For Hedli Anderson - W.H. Alden


TWO SONGS FOR HEDLI ANDERSON
in
Selected Poems of W.H. Auden
by W. H. Auden
Vintage


I

Stop all the clocks, cut of the telephone,

Prevent the dog from barking with a juicy bone,

Silence the pianos and with muffled drum

Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes cricle moaning overhead

Scribbling on the sky the message He is Dead,

Put crepe bows round the white necks of the public doves,

Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,

My working week and my Sunday rest,

My noon, my midnight, my talk, my song;

I thought that love would last forever: I was wrong.

The stars are not wanted now; put out every one:

Pack up the moon and dismantel the sun;

Put away the ocean and sweep up the wood.

For nothing now can ever come to any good.


Leia a parte II em poets.org




segunda-feira, 1 de junho de 2009

Poesia da Semana

Como quem sente a fisgada
antes do peixe
me senti por um momento apto
ao ato desta captação:
entre eu e você etrevisto
ou que não existe, mas insisto,
entre você e eu, concebido.

Se é sutil na vida
que dirá entre bits ?
Acredite.

Acho que você até já disse,
elas sempre sabem antes,
seus mapas tem mais alcance,
quem enxerga linhas do destino
são ciganas, não ciganos...

Mas desiste,
se procura saber e só, somente.
O que tem fim se desmente
e eu comecei antes do início - lembra?

Estranho e relapso,
este fato,
só sugestionado
como um gato pardo
de relance
entrevisto
de instante em instante

Com Sono

...as palavras são de uma matéria comestível. Não sei explicar,
dá as vezes sem querer esse negócio em mim:
é tipo um fenômeno mesmo.
Eu falo as palavras devagar e elas se materializam na minha
boca, dá vontade de mastigar.
Na verdade eu mastigo, não é matafórico, eu sinto é físico
na minha boca. É gostoso - tem haver com estar com sono, eu acho.

Consegui provocar a sensação, pensei que não conseguiria,
tem palavras melhor de comer, que são massudas, comi
"pantomima" agora, é boa. Pensei que "pudim" seria boa,
mas não, acho que essa sensação não gosta de ser óbvia.
"Óbvio" é bom também, mas fica um pouco magro no final,
- é óbvio.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Poesias da Semana

*


Seiva-se quem puder
Antes que se seife


*


Eu escrevo agora
10 da manhã
quinta feira
porque sim.

É preciso decretar
nossas vontades
contra a libertinagem
das regras.

Decreto que esse estranho espaço aqui
que não existe
mas é como um quarto
o qual se estranha depois de uma longa viagem
ou como uma tarde
a qual se prestou atenção
esse espaço
tem dessas coisas que só tem aqui:
instantes como o da seiva
dessa árvore enorme que me deparei
e senti minhas mãos agalhando-se
e o que senti também
foi que a seiva se me sobrou
fazendo cair lágrimas,
muitíssimas.

Só nesse estranho tempo
dessa leitura perdida
num espaço sem nada
só com o nosso interior
tentando pulsar algum calor
através da lente fria
desse quadrado olho de vidro.

Mas vasculhem:
há visgo de bits
mesclando-se por alucinógenas
e intermitentes
procuras de afeto
brotanto pelas gargantas do google.

Procurem que nos encontramos
neste reduzidissíssimo ponto de tempo
que é esta piscadela.
Entre o abrir e o fechar dela:
receba-nos,
tela.

terça-feira, 10 de março de 2009

Poesia da Semana

Chove. É a primeira vez de sempre.

Que felicidade - chove às favas, chove quente.

É o ventre entregue ao que recende

do céu ao chão.

É graça, galharda,

tac-tac-tac; florindo nas calhas.

É LH pra caralho

picotando cleck-cleck nos lábios

petriclara – dos pés aos telhados.

Grandiloqüente (tia-avó prima parente)

mas aqui, mana presente

no quintal em CH.

Chuva – vem e fica.

Velha desabrida

fazendo um chá.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Marretas

Geralmente são grupos enormes de 250, até 500 pessoas.
Se comunicam pela internet, marcando os ataques.
Seus alvos são grandes edificações abandonadas:
Galpões, pátios, fábricas.
Cada um com a sua marreta
e a sua muda de árvore .
A ação deve ser rápida.

Derrubam paredes e quebram o chão,
e assim que encontram a terra
plantam as mudas.

Quando dá certo,
depois de 4 ou 5 anos já estão passeando pelas sombras da mata.

Às vezes as mudas são arrancadas pelos donos do terreno
e o local é novamente cimentado.

Mas depois de alguns meses eles voltam.
São como as plantas - sua maior inspiração:
esperam em semente
escondendo-se na terra e
sub-repticiamente se espalham
pela polinização sem fio
da natureza
até germinarem, enraizarem, crescerem
e racharem as paredes
e levantarem o chão.

Com o tempo seus atos ficam mais ousados.
Já não são locais abandonados.
As marretas quebram ruas,
pátios de shoppings
e prédios de vidro azul.

A polícia prende alguns,
e seguranças armados matam outros tantos.
Mas o movimento dos "Marretas"
já tomou conta do globo.

Um globo que, pouco a pouco,
vai tornando a ser o que era.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Marchinha de Carnaval: "Presidente da Cor da Gente"

Na América vou procurar
Um jeito da vida melhorar
Um presidente, da cor da gente
É mais decente, mas vou lhe perguntar
Se é possível que os States,
Devolva um pouco do que tomaram de cá

Refrão:

Obá-Mamá, Obá!
Eu vou mamar de volta
O quê me tomaram de cá,

Obá-Mamá, Obá!
É um Barack
O Oba-Mamá de lá!

Desembucha !

Interessados em conhecer a melodia da marchinha, entrar em contato pelo comentário que eu telefono.

Ou durante o carnaval, nas ruas de Barão Geraldo!

Vou vestido de Barack Obama, é claro.