segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Poesia da Semana

É uma grande preparação,

vê-se pelas casas

que apesar de estarem como sempe

pasmam de imobilidade


pela primeira vez você ficou curioso

para saber o que se passa dentro delas,

são pequenos mundos

de inviolabilidade e segredo


é óbvio que tudo vai mudar

dentro de instantes

que se refazem em vento

céu negro

e eletrecidade impalpável


é óbvio que tudo vai mudar,

você já teve dezesseis anos de idade

e os mistérios do amor

e da morte

estão prestes a irromper

de sua grosa casca de penumbra


é óbvio que tudo vai mudar,

é o dia do natal,

quem há de nascer agora

para desfazer esse caminho torto

apercorrido até aqui pelo futuro


mas eis que a chuva não vem,

é a sua vida que agora pasma

de imobilidade

e o cheiro daquilo que foi descoberto

- que estava nos dedos, um cheiro acre

de amor e água do mar,

e o gosto das lágrimas

e o brilho dos olhos curiosos

e a pureza do riso presente -

tudo isso está à beira de ser esquecido


é o tempo presente – tudo que muda

já mudou

menos a solidão

do casal que já teve os filhos

e a novidade deles

não é nem mais lembrança

do cheiro daquilo que passou


é exatamente a chuva que não vem,

o dia do natal

a inviolabilidade das casas

a grande preparação


tudo virado em fumaça

na ponta quente do cigarro

nas linhas do que resta

desse mais um fraseado