É uma grande preparação,
vê-se pelas casas
que apesar de estarem como sempe
pasmam de imobilidade
pela primeira vez você ficou curioso
para saber o que se passa dentro delas,
são pequenos mundos
de inviolabilidade e segredo
é óbvio que tudo vai mudar
dentro de instantes
que se refazem em vento
céu negro
e eletrecidade impalpável
é óbvio que tudo vai mudar,
você já teve dezesseis anos de idade
e os mistérios do amor
e da morte
estão prestes a irromper
de sua grosa casca de penumbra
é óbvio que tudo vai mudar,
é o dia do natal,
quem há de nascer agora
para desfazer esse caminho torto
apercorrido até aqui pelo futuro
mas eis que a chuva não vem,
é a sua vida que agora pasma
de imobilidade
e o cheiro daquilo que foi descoberto
- que estava nos dedos, um cheiro acre
de amor e água do mar,
e o gosto das lágrimas
e o brilho dos olhos curiosos
e a pureza do riso presente -
tudo isso está à beira de ser esquecido
é o tempo presente – tudo que muda
já mudou
menos a solidão
do casal que já teve os filhos
e a novidade deles
não é nem mais lembrança
do cheiro daquilo que passou
é exatamente a chuva que não vem,
o dia do natal
a inviolabilidade das casas
a grande preparação
tudo virado em fumaça
na ponta quente do cigarro
nas linhas do que resta
desse mais um fraseado
Um comentário:
mas já passou o natal
saiu feito fumaça da chaminé que o aguardou
guardou em algum silêncio o olhar curioso pro ano que vem
mas já veio o carnaval
nas pontas de meu dedos nem o cheiro de cigarro, ressaca da folia
convite pro novo dia, impregnou
só restou a solidão
só o cheiro forte de asfalto depois da chuva daquela estação, não muda
muda não
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