segunda-feira, 26 de março de 2007

Poesias da Semana

Este alienígena tem múltiplas formas
de se aconchegar no meu regaço.
Seu corpo é todo um baile ainda misterioso
Os seus membros, suas partes
Onde é liso, onde é rugoso

Este alienígena desafia minha forma de ter e dar e misturar,
Com suas mil possibilidades de ventosas
Com seus meios que não sei classificar.

Como dizer que é dedo
Aquilo que é pra pegar
Mas murcha e desaparece
E noutro ponto brota?
É seio aquilo que incha
Mas do bico que se abre
Sai algo quem sabe língua,
Quem sabe?

Este alienígena faz do meu corpo um caleidoscópio
Pra ser dele eu saio do planeta.
Invento uma estranha estrela
Para ele ser meu.
Esse alienígena ignora que na Terra só há dois sexos
E me propõe coisas
Que fazemos como se fôssemos três.

Este alienígena se encosta em mim para além da pele
Me faz vasculhar texturas de dentro do corpo
Para encontrar a seiva que lhe agrade.

Este alienígena composto por uma química desconhecida
Quem sabe derrete
Quem sabe queima
No instante em que inventarmos algo.
Quem sabe beijo.


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Lá embaixo, (bem embaixo), são três...
E vai subindo,
No meio quatro,
E noutra região mais cinco,
E em cima nove, e ao norte um tão
Grande e verde
Que a mente mal consegue figurar, ah!

São vinte e seis os estados
brasileiros pelo meu corpo:
Tocantins. Amapá,
e eu passei correndo,
por tanta coisa, tanta coisa, a viajar...

Mas se eu me detesse ali,
sentado num paralelepípedo, numa esquina,
vamos supor, em Parati, eu veria:
nas ruas, construções,
terrenos baldios, nas pessoas:
eu brasileiro.

São vinte e seis batendo pelo meu corpo brilha
uma ilha Florianópolis no meu tornozelo
na orelha bateram Bahia-Bahia e bem no meio
do peito, batendo vermelho, meu coração
estala na chapa dos campos gerais.

É um esporte, uma religião,
de chinelo meu pé bate o chão
e em cada canto é de um jeito,
mas é sempre o chão do meu peito.

É como a vida de um irmão,
uma crença,
eu pareço muito com tudo isso,
e é isso desde nascença.

domingo, 18 de março de 2007

Poesia da Semana

Chove


Chove.
Ouço, vejo, sinto o cheiro,
chove dentro do meu pensamento,
e à chuva quero dizer sim,
mas não é me molhar dentro da chuva,
era preciso eu chover junto com a chuva,
era preciso chover dentro de mim.

E não adiantava eu ser o céu que chovia,
a terra que encharcava - olha, nem se eu fosse
cada gota que caía, a Infinita Água,
o próprio ciclo que se repetia.

Talvez se eu fosse o cheiro de tudo molhado.
Se eu fosse o barulho da chuva no telhado,
se eu escorresse pela calhas até os quintais
e formasse a enxurrada grossa nas calçadas.
Se eu fosse a intimidade morna
dos pés descalços nas poças d’água.
Mas não.

Eu precisava acontecer junto com a chuva,
ser o acontecimento chovendo,
ser a mudança que a chuva traz:
a decepção de quem foi a praia,
a alegria de quem plantou,
ser o banho e banhar,
ser a claridade espocando em relâmpago na escuridão,
ser mais chuva do que a chuva,
a esperança,
o amor de certas plantas
que fazem amor numa gota de chuva.
Porque isso é muito a chuva.

Mas eu,
eu estava chuviscando.
Tentando,
chamando,
clamando, pluviando, chuvamando,
mas tendo que manter intacta
a porra do teto
deste coração seco.
Vendo a chuva e só,
e solidão.

terça-feira, 6 de março de 2007

Poesia da Semana

Alienígena

O alienígena veio até nós.
Finalmente !
Ele é outra pessoa,
mas é outra coisa,
extra-humano
e irmão de vida.

Eu já o amo.
Ele é vida que olha pras coisas,
olho que viu meu planeta no céu,
nos seus olhos outro céu,
sua boca diz luas,
e uma palavra estranha
faz de outra cor
a luz dos seus dias.

Olha, é amor que não cabe aqui,
nesta forma de vida,
nesta História do Homem.
É cumplicidade dos nossos nadas.

Eu o amo com toda minha inter-humanidade.
Eu o quero para além do invólucro humano,
e eu o desejo como a um terceiro sexo.

Desembucha !

Um alienígena. A idéia de alguém que não é outra pessoa, mas algo distinto de nós, sempre me fascinou. Primeiro no aspecto físico, táctil - como deve ser a pele, o olho, o olhar. E o céu desse planeta dele, ou dela (haverá só dois sexos? haverá mais de um?) - quantas luas, de que gás serão feitas as nuvens, que espécie de água, que tamanho de dia.
Depois, por ser uma inteligência diversa, um outro modo de conceber as coisas. Aquilo que de alguma forma é humano, ou parente da idéia do humano, mas é mais que humano.
Aí quem sabe o alienígena não vem para solucionar aquilo que não tem solução, não o aquecimento global, a injustiça desse planeta, a guerra, mais do que isso: quem sabe o alienígena não nos mostra uma forma de ....curar uma dor de amor no coração.

O coração alienígena (só mesmo sendo alienígena) quem sabe não sofre, quem sabe nos ensina.