domingo, 18 de março de 2007

Poesia da Semana

Chove


Chove.
Ouço, vejo, sinto o cheiro,
chove dentro do meu pensamento,
e à chuva quero dizer sim,
mas não é me molhar dentro da chuva,
era preciso eu chover junto com a chuva,
era preciso chover dentro de mim.

E não adiantava eu ser o céu que chovia,
a terra que encharcava - olha, nem se eu fosse
cada gota que caía, a Infinita Água,
o próprio ciclo que se repetia.

Talvez se eu fosse o cheiro de tudo molhado.
Se eu fosse o barulho da chuva no telhado,
se eu escorresse pela calhas até os quintais
e formasse a enxurrada grossa nas calçadas.
Se eu fosse a intimidade morna
dos pés descalços nas poças d’água.
Mas não.

Eu precisava acontecer junto com a chuva,
ser o acontecimento chovendo,
ser a mudança que a chuva traz:
a decepção de quem foi a praia,
a alegria de quem plantou,
ser o banho e banhar,
ser a claridade espocando em relâmpago na escuridão,
ser mais chuva do que a chuva,
a esperança,
o amor de certas plantas
que fazem amor numa gota de chuva.
Porque isso é muito a chuva.

Mas eu,
eu estava chuviscando.
Tentando,
chamando,
clamando, pluviando, chuvamando,
mas tendo que manter intacta
a porra do teto
deste coração seco.
Vendo a chuva e só,
e solidão.

Um comentário:

Tatiana disse...

Oi, Guga
Te vi ontem, lá na CPFL, peguei o endereço daqui, escrevi em meu blog, citei você, botei link no texto, vim aqui e dou de cara com om poema da Chuva que muito me emocionou.
Mais tarde passearei em teu blog para ver o que me espera, com mais calma e paz.
Achei tua apresentação muito boa.
Parabéns.