domingo, 27 de março de 2011

Poesia da Semana

E foi deste modo que ela se colocou no apertado espaço entre meu corpo e o teto do quarto, que esmagáva-nos.
Que aliás é e sempre foi a melhor maneira que sempre pudemos nos arranjar nesse espaço apertado, pois nessa posição, apesar de esmagados entre cama e teto, podemos nos olhar frente à frente, ela sustenta o seu peso apoiando as mãos sobre o meu peito e eu pego seus seios com minhas mãos, como se perscrutássemos os corações por debaixo da pele.
Como se disséessemos um ao outro este complicado verbo - perscrutar – e ainda muitos outros – perscrutássemos - com suas dezenas de conjugações em diversos tempos e posições. Entrando nos substantivos e deixando-os entrar, experimentando o gosto de adjetivos superlativos deliciosíssimos e gostosérrimos. E ao invés de entender os significados das palavras, sentíamos na boca o gosto delas.
Ou como se chuvesse: com todos os detalhes e possibilidades da chuva, da gota ao dilúvio, inclusive nos sendo por vezes salpicada a novidade rápida e lâmina de luz do corisco, sendo-nos também possível aspirar o perfume verde-brilho de musgo umedecendo na fresta entre dois galhos redondos de onde desaborcha uma estranhíssima orquídea oculta sob as grandes camadas e as pequenas camadas abertas de par em par por um leve toque de Pã.
Ou como se fôssemos atingidos por um raio: eletricidade que não nos mata de imediato, mas que espalha pelos corpos sua megavoltagem que se compartilha antes da morte... mas que de alguma forma isso fosse bom.
Ou como se fôssemos....ou como se....ou como... ou.....
Até o fim, nos metendo por dentro dessas metáforas, cada vez mais fundo, até chegarmos exaustos a um grito que significa grito e um gozo que significa gozo.

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