segunda-feira, 2 de maio de 2011

Poesia da Semana

Cotonete Amoroso

Ela murmurou
um sonho
pra gente,
espremeu contradições
da sua garganta.

Apagou a luz
do quarto em seus olhos.
Entramos.
Roupas jogadas no tapete,
a voz deitada num colchão.

Seu ritmo era um contra-senso,
cabiam dezessete palavras em cada tecla
do piano que corria atrás dela.
Ela cantava ímpar.

E era exatamente o que a gente
precisava sentir:
essa força toda
de um instante sem nada,
essa meia-luz concentrada,
esse prato cheio de falta.

Tinha saliva naquelas palavras
a gente sentia a língua
que aqui e ali se esbarrava.

Uma meia de lã
calçando o pé do ouvido,
um cotonete amoroso.

Ela cantou
para sorte
da nossa dor.

Nenhum comentário: