Por acaso se encontra um bloco na rua.
Segue-se.
Cantam aquela que você gosta tanto,
você solta a garganta
e ela cai e se espalha pela rua,
escorre até as calçadas,
sobe pela parede das casas.
Na janela uma senhora sorri.
Você estranha,
pois não havia reparado antes
no desenho colonial
dos azulejos daquela balaustrada.
O batuque esquenta,
a bolsa da mão virou chapéu,
você perdeu as alpercatas,
a camisa virou uma capa.
Você molhou o bico
com os últimos dois reais da carteira.
Mas não são reais,
são mil-réis.
Agora você viu
que sua calça foi feita de saco de açúcar.
Esse domingo é muito mais domingo,
você pensa,
para quem trabalha forçado.
Perdura um nervosismo geral
de certa recente invasão holandesa.
Agora a cidade é assim:
escorre gente pela canaleta dos becos
na trilha semi-certa dos cordões,
francesas descem de carros negros
e se deslumbram das portas dos hotéis,
um rio limpo corre
dividindo a avenida central,
o poeta de chapéu escreve
no guardanapo do café,
ouve-se ao longe o acorde dissonante
da freada do bonde,
um sino repica ,
anuncia-se a quermesse,
se desfaz a novena,
renova-se o discurso,
e esquenta a função,
interrompida pela algazarra dos capoeiras monarquistas,
e tome cavalaria,
fujam para a roda do mato em volta.
É mesmo a sua cidade do seu país,
agora sim você reconhece.
Eis que surge a mascarada.
É claro que essa mascarada só pode
preferir brincar com você,
que veio do tempo das canções,
que nada quer,
tudo faz e não sabe quando vai,
não acha nada
mas está sempre acabando de se apaixonar.
E você canta,
dos seus olhos refletidos
em outros olhos pela
sua dela boca
canta,
você sabe
que não sabe
de quem boca é que
canta,
lábio-mar, rio cordão
por onde for é gente e mais gente sempre só se
canta.
Até que antes do primeiro risco vermelho aparecer no céu,
um risco vermelho
diante dos seus lábios
se desdobra
pelos lábios dela.
Se desfazem os cordões,
o rio volta a ser algo indizível.
Surge um shopping.
Agora,
só ano que vem.
Um comentário:
Muito bom :)
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