sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Sexta-feira,
Com sua trepidação.
Fazer o mundo girar
Desde o centro duma roda.
Ver meus camaradinhas...

Sexta-feira,
Mesmo sem amor,
Sem dinheiro, 
Sem razão:
Um único amigo que seja
(Real, não virtual)
Sentar na beira duma calçada
Com uma latinha
E sonhar o mundo
Dando risada... 

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Poesias da Semana (Pedaços)

          Toda Noite de insônia
           tem um poema em mim,
          eu gosto-lindo
           dessas linhas que dessem
          - algum ritmo -
          e algo que acontece
           entre começo e fim.    



                -- *--



Terra e água modelam
O fogo é mais perverso
O ar é o fole de tudo
E o quinto elemento é verso


                    --*--


No corredor de lajota
do quintal de casa eu fui feliz

Foi das 18h40 às 18h57
Eu lembro bem

Era um corredor pequeno
dessas lajotas de barro antigas
que não se fazem mais
gostosas de pisar ou deitar

Às 19h já tinha que sair de novo
mas durante 17 minutos
fui completamente livre
Não havia nada na minha mente
Quando deitei no chão de lajota

Veio minha filha de 2 anos de idade
Fez nada comigo

Olhamos o céu
Ela disse:
"Azul"

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Poesia da semana

Então ele se levantou e começou a falar
Estava em meio aos escombros do pós-guerra
E ele dizia: a vida é boa demais!
E era como que emergido da terra

E era velho e pobre
E só tinha uma canoa
Vivia sem medo da morte
E mesmo morrendo ainda achava a vida boa

E ele dizia: “eu tenho meu norte”
E pra ilha mais ao sul teimavam em o levar
E por lá, preso, sozinho, com fome e com frio
Dizia: “ninguém prende a mente de alguém a um lugar”

E dizia que “a lei não se altera
Mesmo que o erro perdure agora
Tudo é feito do mesmo lodo
E purificado pela mesma aurora”

“Onde eu estiver tenho em mim terra, fogo
Água, éter e ar, e sou dono de minhas ações
Quando me movo, movem-se comigo
Mestres e guias das dez direções”

"E se por sorte encontro uma flor
Que aliás, nasce no lodo imundo
Reparo bem nela, pois assim reparando
Percebo completo o formato do mundo"

"E mesmo que não haja flor
Nem outra beleza de formato algum
Havendo consciência, eu mesmo crio
Meus três mil mundos em um."

Poesia da semana

Por ser diferença existe
E havendo, beleza é:
Difere pois a existência
Do homem e da mulher

Não sei se somam-se ou somem
Pois querem o que outro quer
A mulher o que é do homem
O homem o da mulher

Ele nos olhos dela
Vê o fim e o começo
A morte na mal-querência
A vida no seu apreço

Ela nos olhos dele
Também vê começo e fim
A morte que vai num não
A vida que vem num sim

Sela-se algo no abraço
Que ainda promete além
A vida num novo traço
De novo incompleta vem

A vida completa teria
Inútil teor parado
Pois tem o teor da vida
A busca em bruto estado

A terra que busca o fogo
O fogo que busca o ar
O ar se condensa em água
A água desenha o lugar

A terra parceira do fogo
O ar companheiro da água
Ela sem ele é rogo
Ele sem ela é mágoa
















segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Poesia da semana


Uma porção
de religião
com massagem:
Amen
          doin

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Poesia da Semana

Olhava minha filha
recém nascida
e ela olhos nos olhos me olhava.
E como num exercício
que um dia fizera,
um exercício de yoga
ou pantera
ficamos atentos, somente
atentos para ver
o que era.

E nos olhos daquela criança
- é impossível explicar -
duas fogueiras flamejavam
queimando a substância mais pura
com força resoluta
e calma decidida,
como se dissesse:
vamos do início - vida.

Vamos do início - vida,
ela me mostrava,
banhando tudo em infinita candura,
e tão feliz
pude notar
que também em mim
há a água mais pura.

A água mais pura
uma filha
eu olhava perplexo
o absurdo óbvio
o engraçado sério
de ser possível ficar
cara a cara
cara a cara
cara a cara com o mistério.

domingo, 21 de agosto de 2011

Poesia da Semana

O solilóquio é exatamente isso:
Uma estranha palavra
Cujo significado sabe-se
Vagamente.

Amiúde aparecem,
Em azáfema, emprestando
seu toque azedo
ao fim da estrofe.
Essa que todos
Querem provar
Pois lembra
estrogonofe.

E acontece
Pois queremos mesmo
Perscrutar
Cada vez mais
Essas palavras de Clarice,
Assim: Lispector!

Não é assim?
Não brilha
No meio da frase
Uma palavra
Como Miríade?

O dicionário
Não dissolveria
Se soubéssemos, sucinta,
A condição sine qua non?

Ou alguém
ainda duvida
quão comestíveis são
as palavras conforme
provamos o primeiro
estrogonofe
deste poema?

A incipiência
Das palavras é discernível
Em sua profícua substância,
Confere?

Melando-se
Com lambujem
Quando se extrapola o sentido.
Ou não?

Afinal,
sou só um dito cujo
que não chega a ser o tal
e faz-se de joão ninguém
pra não ficar
zé mané no final.